as crónicas da pulga

8.9.05

pungir-te ou a súbita manifestação do díptero insecto

puxar-te os ouvidos e gritar-te para ouvires a minha voz rasgada. separar-te as pálpebras com os meus dedos para que os teus olhos vejam os meus e tudo o que neles se faz arrastar. abrir-te as narinas até fazer sangue para cheirares de vez a porcaria do meu perfume. despir-te. todo. e pontapear-te. morder-te. pisar-te. sentir-te que existo! esmagar-te os lábios e violentamente beijá-los.

1.9.05

meurseault

saí de casa e procurei um café. o ideal seria ter uma máquina, mas não tinha. então, aproximei-me, no balcão, da zona mais próxima da prateleira que os segurava. estudei-os.
é um português suave... (sim, porque é português) dos azuis (também há em vermelho - qual será o que faz menos mal?), se faz favor (meu deus! - eu nunca digo meu deus - parece que estou a escolher um gelado!).
"é um português suave... dos azuis, se faz favor."
sentei-me no puf e fumei dois cigarros. mas não sei se os fumei. no fim, o ar era quente.
toquei duas músicas ao piano. depois, ficou-me aquele sabor de cheiro de cinzeiros entranhado na garganta, na ponta dos dedos e na luz do candeeiro.
acendi um incenso. lavei as mãos. e comi duas colheres de queijo fresco para barrar.

versão soft

se voares e me olhares de cima, atrás daquela coisinha que saltita de vês em quando podes ver um sem-número de fios que se arrastam e arrastam memórias que saltitam, tropeçam umas nas outras, tomam balanço em direcções todas contrárias e que às vezes, passando para a frente, como cordões de ténis desapertados, fazem tropeçar a figurinha que de vês em quando saltita.