o número 12 é uma porta verde, pesada ao abrir. 84 degraus de pensamentos e memórias separam-na da última casa, única no último andar. uma subida dura. um cheiro seco e uma luz seca. um som seco dos degraus velhos de madeira sem pó.
abro sempre a porta. é branca, o manípulo lembra uma lâmpada. branca. tem uma pequena abertura para ver quem chega. nunca ninguém chega. ainda é daquelas aberturas sem vidro, apenas tapadas por um pedaço de ferro pintado de branco, que gira em torno de um prego.
entro. e é sempre tudo aquilo uma solidão. mas não estou só. se estivesse, dançava ao som de mim a dançar sobre a madeira envernizada. os LP's arrumados a um canto da sala. meia parede e meio tecto inclinados. abro as janelas. luz. não há lugar para o pó, ali. o tempo parou. é perfeito. danço.